Janeiro Branco destaca impacto da saúde mental no surgimento e agravamento de doenças físicas

Drª. Marianna Andrade e Dr. Jamary Oliveira

Com o início do Janeiro Branco, mês de conscientização sobre saúde mental, especialistas destacam um impacto muitas vezes subestimado: a relação íntima entre mente e corpo. Transtornos como depressão, ansiedade e estresse não afetam apenas o bem-estar psicológico, mas estão diretamente ligados ao agravamento e até mesmo ao surgimento de doenças físicas. Essa conexão evidencia a importância de integrar cuidados psicológicos e médicos para prevenir complicações graves, como doenças cardiovasculares, neurológicas e distúrbios psicossomáticos.

Diversos estudos comprovam que a saúde mental é uma peça-chave na manutenção do equilíbrio do organismo como um todo. Muitas são as evidências de que indivíduos que enfrentam transtornos mentais graves têm maior risco de desenvolver doenças crônicas, como hipertensão e diabetes. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o estresse e a ansiedade são responsáveis por mais de 20% dos casos de incapacidade no mundo, com efeitos diretos sobre o coração, o sistema nervoso e outros órgãos.

Segundo a coordenadora de Cardiologia do Hospital Mater Dei Salvador (HMDS), Drª. Marianna Andrade, o estresse crônico, além de impactar a qualidade de vida, atua como um gatilho para doenças cardiovasculares. “O estresse crônico ativa o sistema nervoso simpático, elevando os níveis de cortisol e favorecendo o desenvolvimento de hipertensão e arritmias. Comportamentos como sedentarismo, má alimentação e tabagismo, frequentemente associados a transtornos mentais, também agravam os riscos”, ressalta a cardiologista. Ela destaca que um tratamento holístico, que inclua suporte emocional e promoção de um estilo de vida saudável, é essencial para a prevenção de eventos cardíacos.

Do ponto de vista neurológico, o impacto não é menos relevante. De acordo com o neurologista do HMDS, Dr. Jamary Oliveira, as manifestações somatoformes – condições em que problemas psicológicos se traduzem em sintomas físicos, são bastante frequentes. “É comum vermos casos de gastrites, episódios semelhantes a AVC e confusão mental originados de transtornos emocionais. Além disso, doenças neurológicas crônicas, como Parkinson e Alzheimer, frequentemente acarretam repercussões emocionais, dificultando ainda mais o manejo clínico do paciente”, pontua.

Para além das consequências físicas, a hospitalização em si pode representar um momento de crise psíquica e perdas. A coordenadora do Serviço de Psicologia do HMDS, Drª. Gabriela Rêgo, explica que as internações rompem as noções de estabilidade da vida cotidiana, intensificando sensações de insegurança e angústia, especialmente em pacientes de unidades de terapia intensiva. “No HMDS, prestamos suporte psicológico aos pacientes e familiares alinhado à equipe multidisciplinar, o que possibilita um atendimento mais integral e eficiente. Esse cuidado reduz sintomas emocionais, melhora o enfrentamento e decisões frente o adoecimento, podendo até auxiliar no tempo de internação e prognóstico”, enfatiza a psicóloga.

Dados oficiais da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) reforçam que pacientes com transtornos de humor têm 30% mais chances de desenvolver doenças cardiovasculares. Já a OMS alerta que intervenções precoces na saúde mental podem reduzir em até 40% o risco de complicações físicas. O Janeiro Branco surge como uma oportunidade para que a população reflita sobre a importância da saúde mental e sua interconexão com o bem-estar físico. A abordagem integrada, promovida pelo Hospital Mater Dei Salvador, é o caminho para um cuidado mais completo, que vai além dos sintomas, ao considerar o indivíduo como um todo.