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MUNDO - 01/12/2019

Crise na Venezuela atinge doentes mentais, que ficam sem remédios

Crise na Venezuela atinge doentes mentais, que ficam sem remédios

lanca morde. Forte. Diagnosticada décadas atrás com esquizofrenia grave, Blanca Livia Arcineiga, 49 anos, chegou a controlar sua condição. Pouco tempo atrás, ela era estável o suficiente para trabalhar meio período como empregada doméstica. Ajudava a mãe idosa na cozinha. Elas dormiam na mesma cama.

Agora ela está deitada, sozinha e nua em um colchão sujo dentro de um quarto fétido. Sua família trancou a porta – para impedi-la de atacá-los.

Venezuela socialista e devastada pelas sanções cambaleia rumo a uma das piores implosões econômicas da história moderna, e Blanca é um dos exemplos mais desumanizadores de seus efeitos colaterais: a crescente crise na saúde mental. METRÓPOLES

A condição de Blanca se deteriorou acentuadamente nos últimos oito meses, disse sua mãe, porque a família não consegue encontrar nem pagar pelos medicamentos de que precisa. Hoje eles arranjam apenas uma de suas oito prescrições – um anticonvulsivante. Como resultado, Blanca regrediu a um estado selvagem.

A família, que tem renda familiar de US $ 16 por mês, sobrevive da mandioca e da banana. Mal puderam pagar pelo portão pesado que fecha o quartinho de Blanca.

“Ela me odeia por causa desse portão”, disse Aurora García Sánchez, a mãe, 81 anos, apontando para as grades. “Mas tive que trancá-la aí dentro”.

García olhou para os olhos distantes da filha. “Aí está minha Blanquita”, disse. “Não sei quem ela é”.

Anos de políticas socialistas fracassadas, má administração econômica e corrupção cobraram um pesado tributo da sociedade venezuelana. Para grande maioria, hiperinflação, desemprego, apagões e escassez de alimentos e água fizeram da vida uma luta diária pela sobrevivência.

O impacto na saúde foi agudo.

A escassez de medicamentos – aspirina e antibióticos, mas também remédios contra o câncer e antirretrovirais para pacientes com HIV – transformou os hospitais estatais em centros para pacientes desesperados e moribundos.

E a espada corta duas vezes na carne dos doentes mentais: o estresse está exacerbando os sintomas e as condições de saúde mental, aos quais o sistema de saúde já não consegue responder. Os médicos dizem que a falta de medicamentos e a deterioração das instalações do Estado dispararam o número de mortes evitáveis.

No hospital El Peñon, uma das principais instalações psiquiátricas da capital, 14 pacientes morreram desde 2016 – três apenas este ano – por causa das más condições e da falta de medicamentos, segundo dois médicos que trabalham no local. As fatalidades, disseram eles, atingiram principalmente pacientes idosos que lá chegaram, em péssimas condições físicas, transferidos de outras instalações estatais fechadas por falta de recursos públicos.

O hospital e o Ministério da Saúde da Venezuela não responderam aos pedidos de comentários. Como a saúde pública se deteriorou, as autoridades pararam de publicar dados. Mas os médicos – que falaram sob condição de anonimato, por medo de represálias do governo – disseram que a grave escassez de funcionários e medicamentos, incluindo medicamentos antipsicóticos, foi uma sentença de morte.

“O sistema imunológico dos pacientes já estava fraco, e o hospital está em péssimas condições, sem remédios e com uma comida terrível, então eles pioraram”, disse um médico.

Os venezuelanos também estão manifestando com mais intensidade o estresse relacionado à crise, que, segundo os médicos, agravou as doenças mentais, o vício e as taxas de suicídio.

Pedro Delgado, um dos principais psiquiatras da Venezuela, disse que a demanda por tratamento contra abuso de substâncias em sua clínica particular mais do que dobrou no ano passado. No entanto, o número de pacientes que ele trata vem diminuindo constantemente, porque cada vez menos pacientes conseguem pagar pelo tratamento.

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