O mercado de automóveis e motocicletas no Brasil registrou crescimento nas vendas em maio, mas a boa notícia esconde um sinal de alerta para a indústria nacional. Mais da metade do avanço no mês foi puxado por veículos importados, que vêm ganhando espaço nas garagens brasileiras e afetando diretamente a produção interna.
Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), 54% do crescimento registrado nas vendas do mês passado se deveu a modelos vindos do exterior. Enquanto isso, a produção nacional de veículos caiu 5,9% em relação a abril, um movimento que acende um sinal amarelo para o setor.
“É um dado que nós olhamos com preocupação. O mercado está crescendo, as exportações estão crescendo, mas a produção interna diminui e o mercado brasileiro está sendo ocupado por modelos importados”, afirmou Igor Calvet, presidente da Anfavea.
O avanço dos importados ocorre em um cenário de transformação no perfil de consumo do brasileiro. Em 2025, a participação de veículos híbridos e elétricos nas vendas atingiu o maior patamar da história, representando 10% das negociações realizadas em maio. Os consumidores estão cada vez mais atentos à eficiência energética, ao desempenho tecnológico e à sustentabilidade, fatores que favorecem os modelos estrangeiros, muitos deles equipados com tecnologias ainda pouco difundidas na produção nacional.
De janeiro a maio, foram emplacadas mais de 986 mil unidades no país, um aumento de 6,1% em comparação ao mesmo período de 2024. Apesar da alta nos números gerais, o crescimento está longe de beneficiar uniformemente a cadeia automotiva brasileira.
A invasão dos importados, especialmente dos híbridos e elétricos, levanta questionamentos sobre a competitividade da indústria nacional. Especialistas do setor defendem políticas públicas mais consistentes para estimular a inovação, a transição energética e a produção de veículos mais modernos e menos poluentes dentro do país.
Sem uma resposta estratégica, o risco é que o Brasil continue aumentando sua dependência de veículos produzidos no exterior — freando investimentos na indústria local e impactando empregos e arrecadação.