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NOVELAS - 21/01/2018

Eriberto Leão fala sobre fetiches de Samuel em 'O outro lado do paraíso'

Eriberto Leão fala sobre fetiches de Samuel em 'O outro lado do paraíso'

“Ser um homem feminino não fere o meu lado masculino. Se Deus é menina e menino, sou masculino e feminino”. Trinta e cinco anos depois de Pepeu Gomes cantar um hino à liberdade de sentimentos, Eriberto Leão desnuda-se de qualquer tipo de preconceito não só para interpretar o homossexual Samuel em “O outro lado do paraíso” como para despir sua alma múltipla, poética e transgressora para a Canal Extra.

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— Nós somos tudo, o masculino e o feminino. O grande barato é ser os dois. Adoro luta, sou fã de Bruce Lee (cineasta e instrutor de artes marciais chinês, morto em 1973), e ele falava que a gente tem que ser como a água, que pode ser suave ou virar uma enxurrada. Se a suavidade é o feminino, sou suave. Se a enxurrada é o masculino, sou enxurrada. Tudo depende da hora e do momento. A integração entre o masculino e o feminino é a plenitude que eu busco diariamente e que é difícil de ser atingida — observa o ator, de 45 anos.

Eriberto Leão gosta de tudo que é transgressorEriberto Leão gosta de tudo que é transgressor Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo

Mergulhar num mar de novas experiências foi o convite que Samuel fez a seu intérprete para que pudesse se deixar levar por uma maré de fetiches, que deságua em trocar o terno, a gravata e o sapato social por lingeries, batons e saltos.

— Tive que me familiarizar com esse universo. Andar de salto é uma arte, e confesso que não aprendi até hoje, mas tentei. Só consigo dar alguns passos sem me desequilibrar. Nunca tinha usado salto antes e não pude treinar com os da minha mulher (a atriz Andréa Leal, com que tem dois filhos: João, de 7 anos, e Gael, de 4 meses) porque o pé dela é pequeno, e o meu é 42. Também achei esquisito colocar calcinha, meia-calça, porque não orna direito (risos). Tenho perna peluda. Meu ofício me ensinou a me despir de todos os preconceitos e a enfrentar as dificuldades que possam surgir. Para me sentir mais confortável, levei para Samuel um pouco de ídolos do movimento glitter, como Ney Matogrosso no Secos & Molhados e David Bowie — conta.

A fonte onde muitos homens bebem para vivenciar o jeito feminino de se vestir é desconhecida por Eriberto. Daí sua dificuldade com as peças que não ocupam espaço em seu guarda-roupa:

— Nunca me vesti de mulher no carnaval. A primeira vez que usei roupas femininas foi no “Show dos famosos” (quadro de que participou em 2017, no “Domingão do Faustão”), como Adriana Calcanhotto. Nos blocos, os caras colocam sutiã, saia... Não tive essa experiência, mas gosto de tudo que é transgressor, que sai do comum, do certinho.

Eriberto Leão não sabe andar de salto alto e achou esquisito usar lingerieEriberto Leão não sabe andar de salto alto e achou esquisito usar lingerie Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo

A quebra de tabus, ele diz, está sobretudo em seguir as palavras genuínas de um certo revolucionário que mudou o mundo em sua passagem pela Terra:

— Minha transgressão está em seguir um grande mestre, o maior transgressor de todos os tempos: Jesus Cristo. Ele é colocado como um mantenedor de regras e costumes, mas é justamente o contrário. Era de uma liberdade absurda, pregava coisas como “não julgue para não ser julgado”, “quem não tem pecado que atire a primeira pedra”. Jesus se relacionava com os excluídos, não com os que se achavam justos. Ninguém é perfeito. O amor é a única revolução verdadeira.

A tese de Eriberto é assinada embaixo por Samuel. É que uma chuva de afetos caiu sobre a vida do psiquiatra desde que Clara (Bianca Bin), a vingativa mocinha da novela das nove, revelou a todos a orientação sexual dele. De lá para cá, o médico assumiu publicamente sua paixão por Cido (Rafael Zulu) e foi apresentado a um amor maior. A notícia da gravidez de Suzy (Ellen Rocche) vai mexer com os sentimentos de um até então homossexual convicto:

— A máscara de Samuel foi retirada à força, mas Clara só fez bem a ele. A partir do momento em que fica sabendo que vai ter um filho, ele descobre um amor que nunca viveu antes, o de pai. Posso falar com propriedade que é o maior amor do mundo, porque sou pai de dois. João e Gael são os únicos seres que amo mais do que a mim mesmo. E quem é a única pessoa que ama mais os filhos do que o pai? A mãe. Suzy se torna mais especial para Samuel porque está gerando o filho dele. Aconteceu comigo. Passei a amar mais a minha mulher depois que meu primeiro filho nasceu e passei a amar mais ainda quando veio o segundo. Talvez Samuel se apaixone por essa mulher ao mesmo tempo em que é apaixonado por Cido. Essa poesia transgressora me interessa muito.

Eriberto Leão acredita que Samuel vai se apaixonar por Suzy em “O outro lado do paraíso”Eriberto Leão acredita que Samuel vai se apaixonar por Suzy em “O outro lado do paraíso” Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo

A sinalização de um eventual poliamor na trama de Samuel significa uma viagem para um tempo em que as águas corriam naturalmente, sem muitas regras pré-estabelecidas.

— Vamos voltar para uma época, aos anos 60 e 70, em que isso era comum nas comunidades hippies. Existia uma liberdade sexual nesses núcleos familiares misturados. Tudo isso é extremamente interessante e provocador nos tempos atuais — pontua o ator.

Dilema antigo dentro e fora da ficção, amar duas pessoas ao mesmo tempo é algo descartado para a realidade de Eriberto, mas que ele reconhece como legítimo:

— Possível é. A grande questão é se a pessoa quer. A monogamia é uma opção, não é algo biológico, que esteja em nosso DNA. Pelo contrário. A biologia pode ir mais para a possibilidade de vários amores, mas existe a opção de cada um. Não tem certo ou errado, o que deve pautar as relações é a verdade. Tudo pode se as duas pessoas estão de acordo. Mas a monogamia é mais simples.

Eriberto Leão e a mulher, Andréa Leal, estão juntos há 12 anosEriberto Leão e a mulher, Andréa Leal, estão juntos há 12 anos Foto: Reprodução do Instagram

Complexo é perder um amor. Mas será que dói mais ser trocado por uma pessoa do sexo oposto, como no caso de Suzy, que viu Samuel se entregar de corpo e alma para outro homem?

— É complicado ser trocado pelo gênero que não é o seu porque você se pergunta como nunca percebeu que a pessoa que estava ao seu lado tinha interesse pelo mesmo sexo que ela. Ficaria tentando entender isso. Mas, no fundo, ser trocado nunca é fácil. Minha primeira namorada me trocou por outro. Tinha 16 anos e não esqueci até hoje. Foi uma coisa que me marcou, mas que agradeço. Uma lei que tem regido minha vida há um tempo e que eu quero passá-la para os meus filhos é a seguinte: se alguém te trocar, levanta as mãos para o céu. Na vida, a gente não deve ter vontade de estar com alguém que prefere outra pessoa. Devemos querer quem nos ama na mesma medida que a amamos. Só vale a pena amar quem te ama — ensina ele.

Há 12 anos, Eriberto e a mulher, Andréa, seguem nessa mesma sintonia.

— Nosso casamento não é perfeito porque não existe perfeição. Aceitamos os defeitos um do outro e, partindo dessa condição fundamental da imperfeição inerente ao casamento, você se livra de qualquer tipo de pressão. Sou apaixonadão pela minha mulher — declara-se o artista.

Eriberto Leão vestido com roupas femininas em cena da novela “O outro lado do paraíso”Eriberto Leão vestido com roupas femininas em cena da novela “O outro lado do paraíso” Foto: Raquel Cunha/Rede Globo/Divulgação

A dedicação à família é o escudo que Eriberto lança mão para se manter longe do assédio:

— Não recebo cantadas, nem de homens nem de mulheres. E não vou receber. Tenho uma vida extremamente reservada, não vou a lugares onde a energia está para isso. Você atrai o que está vibrando, desejando. Sou realizado com minha mulher. Quando não estou trabalhando, meu tempo é para ela e para os meus filhos. Vivo para eles.

A felicidade dos meninos está no topo da lista de prioridades de Eriberto, que não tem dúvida de que não veria problema em ter um filho gay:

— Não atrapalharia um filho de ser o que ele está destinado a ser. Só quero que vivam em plenitude e na verdade. Como dizia o meu grande mestre, “a verdade os libertará”.

Eriberto Leão é monogâmico, mas não é contra o poliamorEriberto Leão é monogâmico, mas não é contra o poliamor Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo

Não é coisa só de mulher

Chorar: “Chorei com ‘E. T. — O Extraterrestre’. Eu me emociono com filmes”.

DR: “Não gosto. Só um bate-papo natural. Chamar para conversa não é comigo”.

Vaidade: “Não sou muito vaidoso. Poderia ser mais”.

Afazeres domésticos: “Estou sempre varrendo a casa porque os cachorros soltam muito pelo. Na nossa casa, todo mundo faz tudo. João também participa”.

Cremes: “Uso protetor solar, mas não todo dia. Só quando vou à praia”.

Fazer a unha: “Não, mas eu mesmo corto minhas urnas”.

Cabelo: “Uso um xampu específico para meu tipo de cabelo”.

Roupa rosa“Não tenho, simplesmente porque gosto de tons mais escuros”.

Maquiagem: “Se ganhasse a vida no rock, acho que colocaria uma sombra nos olhos”.

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