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SALVADOR - 23/07/2018

Durante enterro de colega, agentes penitenciários reclamam de insegurança

Durante enterro de colega, agentes penitenciários reclamam de insegurança

Os braços firmes erguiam o caixão durante o cortejo sobre o chão de paralelepípedo. Além do corpo de Fábio Neris Cerqueira, 32 anos, os agentes penitenciários carregavam também o peso da indignação e o medo. Na manhã desta segunda-feira (23), Fábio, também agente penitenciário, foi enterrado em Itaparica, onde morou antes vir para trabalhar na capital.

Lotado na Cadeia Pública de Salvador, Fábio foi vítima de disparos de arma de fogo em Campinas de Pirajá. Ele foi alvejado com diversos tiros nas costas e cabeça na Rua Luan Braga. Segundo o sindicato que representa a categoria, Fábio correu do carro que dirigia para evitar que os criminosos vissem sua esposa e filha.

O corpo dele foi velado na casa dos pais por volta das 10h. Cerca de uma hora depois, um cortejo com mais de 300 pessoas seguiu para o cemitério de cidade. “Fomos criados praticamente juntos. Trabalhamos juntos quando era agente de endemias. Era um colega respeitador, brincalhão, amigo de todos”, disse a dona de casa Elisângela de Jesus, 42 anos.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

A última vez que viu Fábio foi no Carnaval deste ano, em Itaparica. “Ele estava na porta da casa dos pais, brincando com os primos. Quando soube da morte dele, meu domingo acabou. Inicialmente, cheguei a pensar que era um dos irmãos, que são policiais militares”, complementou Elisângela.

Os irmãos estavam visivelmente abalados e não quiseram comentar a morte de Fábio. Um guarda municipal de Itaparica, também irmão de Fábio, não quis falar. O pai do agente penitenciário - um policial militar - e outro irmão - oficial da Marinha - já estão mortos.

Fábio passou no concurso da Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap) em 2014, no Regime Especial de Direito Administrativo (Reda). Em 2016, fez um novo concurso e foi efetivado. “Era um profissional admirado por todos. Desde que ele entrou na Seap, não há nenhuma ocorrência que desabone sua conduta”, declarou Reivon Pimentel, um dos diretores do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado da Bahia (Sinspeb).

Insegurança
O Sinspeb comentou em relação à segurança da categoria. “A violência está desenfreada. As facções estão dominando. Por causa dos baixos salários e falta de incentivo do governo, os profissionais que lidam com a segurança pública, policiais civis, militares, agentes penitenciários, guardas municipais, estão tendo que morar em bairros periféricos, onde acabam sendo alvos fáceis para os traficantes”, declarou Reivon.

A falta de investimento foi um outro problema pontuado pelo sindicato e que veio à tona com duas recentes mortes de presos neste mês – uma cama desabou e esmagou um detento no Presídio Salvador e um outro morreu após cair do muro na Penitenciária Lemos Brito (PLB) enquanto tentava fugir.

“A Seap tem R$ 74 milhões do Departamento Penitenciário Nacional (Depen). Este dinheiro está no caixa desde o dia 23 de outubro do ano passado e até agora nada de investimento em modernização, compra de armamentos, como tonfa e escudos”, apontou Reivon.

Combate
O superintendente de Gestão Prisional da Seap, major Júlio César, disse que nenhum agente nunca relatou que tivesse recebido algum tipo de ameaça por parte das facções criminosas. "Isso é uma novidade para mim. Grupos criminosos existem em qualquer lugar, inclusive dentro dos presídios. Nós, da Seap, trabalhamos intensamente com equipes para combater a atuação desses grupos", afirma. 

Ainda segundo o major, o recurso que chegou para a Secretaria ainda não foi utilizado porque o governo federal precisa aprovar os projetos apresentados pela Seap. "Sim, nós estamos com esse recurso do Fundo Penitenciário, da mesma forma que vários estados brasileiros. Mas só podemos utilizar esse dinheiro depois da aprovação do governo", disse.

A verba de R$ 72 milhões, de acordo com Júlio César, deve ser utilizada na construção de novas unidades e no treinamento de agentes. Conforme o major, o agente morto estava há menos de três anos no sistema penitenciário. "Ele tinha passado no último concurso. Estamos tomando todas as medidas para ajudar o DHPP a solucionar o caso", disse. 

Sobre a investigação, a Polícia Civil disse que ainda não há novidades do caso.

CORREIO

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