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BRASIL - 12/12/2018

João de Deus aparece pela 1ª vez após escândalo sexual: “Sou inocente”

João de Deus aparece pela 1ª vez após escândalo sexual: “Sou inocente”

O médium João de Deus apareceu pela primeira vez em Abadiânia (GO), nesta quarta-feira (12/12), após estourar o escândalo sexual em torno de seu nome. Ele foi acusado de abusar de mulheres durante tratamentos espirituais na Casa Dom Inácio de Loyola, onde atende pacientes há 44 anos. O líder espiritual chegou de carro por volta das 9h30 cercado de seguranças, desceu, entrou na sala de orações e na saída disse. “Sou inocente”.

Segundo voluntários que estavam dentro da sala de orações, o médium também refutou as denúncias de abuso e afirmou que a Justiça irá decidir sobre todas as acusações. Ainda de acordo com ele, João de Deus explicou que não se sentia confortável para fazer cirurgias espirituais e outros atendimentos. Agradeceu a oportunidade de estar no local e saiu amparado. Muitos seguidores começaram a chorar.

Voluntário há mais de 20 anos, Cláudio José Antônio Prujá explicou que João de Deus não conseguia incorporar nesta manhã. “O médium precisa estar relaxado, tranquilo. Ele não tinha condições. Mas ele veio e mostrou a cara. Disse pra todo mundo que a Justiça vai decidir”, contou ao Metrópoles.

Os voluntários ficaram muito exaltados com a aproximação da imprensa durante a passagem do médium pela casa. No cordão feito em volta dele, houve empurrões, socos e ofensas verbais. A assessoria do centro informou que a pressão dele aumentou, mas não soube informar se ele foi levado ao hospital.

Assim que João de Deus chegou, cerca de 100 pessoas estavam no local e o cercaram. Ele foi aplaudido e uma grande confusão se formou. Um dos voluntários disse aos jornalistas que o líder espiritual estava sem condições de fazer atendimentos em função do escândalo e pediu desculpas: “Se houve um erro, peço desculpas”, afirmou o homem, que não se identificou.

Até o momento, 450 denúncias foram protocoladas em Ministérios Públicos de dez estados e no Distrito Federal. Coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal do Ministério Público de Goiás, Luciano Miranda Meireles, avalia que as denúncias de abuso sexual envolvendo o líder espiritual João Teixeira de Faria tem potencial para alcançar uma dimensão maior do que o caso de Roger Abdelmassih.

O ex-médico de reprodução assistida foi condenado a 181 anos de prisão por estupro de pacientes. “Pela movimentação que estamos assistindo, o número de mulheres que se apresentam como vítimas deverá ser maior. Há relatos de abusos ocorridos há 20 anos.”

Fila ao amanhecer
O dia ainda não havia clareado e dezenas de pessoas já formavam fila à espera do líder. O movimento, entretanto, é bem menor do que o de costume. Por volta das 7h, o clima era calmo e silencioso. O grupo se reuniu para uma corrente de orações, como sempre ocorre. “O movimento está normal para a época. Daqui a pouco, o atendimento começa e tem hora para terminar”, relatou um voluntário. Ônibus de turismo param no estacionamento e fiéis descem e engrossam a fila.

Dois fiéis de São Paulo já tinham viagem marcada para um segundo atendimento com o médium antes do escândalo. Embora acreditem que as acusações possam ser verdadeiras, preferiram manter a vinda. “Os casos precisam ser apurados”, dizem. Orientados por um guia, pegaram a senha e aguardam atendimento ainda nesta manhã.

“O que me move é a energia do lugar”, disse um deles, que trabalha na área de marketing na capital paulista. Outro observa que o movimento é muito menor em comparação à última visita, feita há cerca de 45 dias. “Não tem nem 10% das pessoas. Quando viemos, o lado de fora e a rua ficavam cheios de pessoas vestindo branco”, comentou. Ambos pediram para não serem identificados.

O líder espiritual, hoje com 76 anos, não é visto desde que o programa Conversa com Bial tornou público o relato de várias vítimas, entre brasileiras e estrangeiras. Com o paradeiro desconhecido, as graves acusações contra o médium levam preocupação a uma cidade inteira – que sobrevive em virtude do trabalho de cura oferecido pelo “cirurgião espiritual” na Casa de Dom Inácio. O município acompanha, apreensivo, o caso e teme que as denúncias impactem o comércio e gerem desemprego.

Dezenas de empresas do ramo de hotelaria, alimentação, joalheria e artesanato se ergueram em virtude do movimento de turistas que procuram o centro espírita de João de Deus.

Denúncias aumentam
O número de mulheres que dizem ter sido abusadas sexualmente por João de Deus ultrapassou 450. Um dia após o Ministério Público de Goiás (MPGO) criar uma força-tarefa para reunir os depoimentos, 206 vítimas revelaram o que teriam sofrido nas mãos do líder espiritual.

Dos 206 relatos recebidos pela força-tarefa em Goiás até o momento, 156 foram feitos por meio do canal exclusivo criado para receber os depoimentos, o e-mail [email protected]. Outras 252 pessoas delataram o médium para o Ministério Público de São Paulo (MPSP). Ainda não houve comunicação oficial entre os órgãos nos dois estados e pode existir duplicidade de casos.

De acordo com o balanço divulgado pelo MPGO no fim da tarde de terça-feira (11), duas das mulheres são estrangeiras: uma vive nos Estados Unidos e a outra, na Suíça.

Além das estrangeiras, as vítimas se identificaram como moradoras do Distrito Federal e dos seguintes estados: Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Pernambuco, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) informou que fez dois atendimentos nessa terça (11).

As promotoras reforçam que as mulheres não devem se intimidar por temerem falta de punição. “Pela lei, a palavra da vítima é prova, é reconhecida como meio de prova e tem especial relevância nos crimes de natureza sexual. Pode levar a uma condenação”, disse a promotora de Justiça do Núcleo de Gênero do Ministério Público paulista, Valéria Scarance. “Você percebe que é uma narrativa com verdade e sede de justiça”, acrescentou a promotora Maria Gabriela Prado.

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) também vai receber denúncias de vítimas de crimes sexuais supostamente praticados pelo médium João de Deus. Os registros poderão ser feitos pessoalmente na sede da instituição, no Eixo Monumental, ou por meio da ouvidoria, que fará o encaminhamento ao MPGO.

Quem é João de Deus?
João Teixeira de Faria nasceu em Cachoeira de Goiás, em junho 1942. O filho de alfaiate conta em entrevistas que seus dons começaram a aparecer a partir dos 9 anos. Apadrinhado por Chico Xavier, serviu de médium para cura espiritual pela primeira vez aos 16 anos.

Ele frequentou a escola apenas até o segundo ano do ensino fundamental, e diz não saber ler nem escrever. Também trabalhou brevemente como aprendiz de alfaiate, minerador e ceramista. Vive em Anápolis, a 40 quilômetros de Abadiânia.

Depois de passar por diversas cidades, em 1976 decidiu se fixar em Abadiânia, onde fundou a Casa Dom Inácio de Loyola. O local recebe cerca de 5 mil pessoas por semana, atendidas, segundo ele, por um dos 30 médicos incorporados. “Quem cura é Deus”, costuma repetir o bordão sempre que lhe é atribuída a recuperação de algum paciente. METRÓPOLES


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