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BRASIL - 15/03/2018

Fraudes no DFTrans: em oito segundos, mesmo cartão foi usado 60 vezes

Fraudes no DFTrans: em oito segundos, mesmo cartão foi usado 60 vezes

A prisão de 34 pessoas envolvidas na fraude bilionária que lesou os cofres do DFtrans, nesta quinta-feira (15/3), trouxe à tona um esquema criminoso aparentemente impossível. De acordo com as investigações da Polícia Civil e do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), um mesmo cartão de vale-transporte chegou a ser utilizado 60 vezes, em apenas uma linha, em oito segundos.

Conforme ressaltou o delegado-chefe da Coordenação de Repressão a Crimes Contra o Consumidor, Ordem Tributária e Fraudes (Corf), Wislley Salomão, o sistema do DFTrans tinha algumas inconsistências que possibilitaram as fraudes. “Era uma maquininha de dinheiro para todo mundo. Passava o cartão no validador sem sair da garagem”, explicou.

O grupo, supostamente chefiado pelo auditor da Secretaria de Mobilidade Pedro Jorge Brasil, preso pela segunda vez, teria desviado mais de R$ 1 bilhão do sistema de bilhetagem. Boa parte do dinheiro, acreditam os investigadores, foi aplicada no mercado imobiliário.

O esquema funcionava desde 2014, destacou a PCDF, quando o servidor estava lotado no DFtrans. A quadrilha descarregava os créditos de cartões de vale-transporte nos validadores de ônibus de forma sequencial e em linhas distintas. Tudo era feito com empresas de fachada e trabalhadores fantasmas.

Hedvane Ferreira, mulher do auditor, também foi presa, além de ex-funcionários do DFTrans, um empregado da Viação Pioneira e outras pessoas que participavam da fraude, entre elas, Valdir Luiz França, velho conhecido de políticos do DF pela atuação como cabo eleitoral. Recentemente, ele estava trabalhando com cooperativas de transporte em Planaltina de Goiás, Entorno do DF.

França e Pedro Jorge Brasil já estiveram presos outras vezes. Advogados e permissionários de empresas que atuam na área rural também foram detidos .

Outra fraude identificada foi o uso do mesmo cartão em linhas diferentes, em curto espaço de tempo, como Núcleo Bandeirante e Brazlândia. Vinte e oito pessoas foram indiciadas pelos crimes de peculato eletrônico, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Seis estão foragidas.

Segundo Lenna Daher, da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público e Social (Prodep), além da responsabilização dessas pessoas, é necessário estancar a fraude. “Precisamos interferir no sistema de bilhetagem automática para que isso não volte ocorrer”, disse.

Confira imagens da operação:

 

Esquema
De acordo com as investigações, o auditor, lotado desde 2014 na Subsecretaria de Fiscalização, Auditoria e Controle (Sufisa), da Secretaria de Mobilidade, seria o líder do esquema. Ele utilizava-se do cargo para vincular falsos funcionários ao recebimento de vale-transporte. Outros servidores do DFtrans o ajudavam a alimentar o sistema com as informações.

Com um contracheque de quase R$ 19 mil mensais, Pedro Jorge Brasil queria mais. As investigações apontam o desvio de até R$ 500 mil em apenas uma semana.

Pelo menos 300 policiais participam da operação. As prisões estão sendo feitas no Distrito Federal, em Valparaíso (GO), na Cidade Ocidental (GO), em João Pessoa (PB) e no Recife (PE). Há busca e apreensão na garagem da Viação Pioneira, no Gama, e em unidades do DFtrans.

Grupo estruturado
A PCDF informou que a investigação teve início há aproximadamente seis meses. Segundo a corporação, trata-se de uma associação estruturalmente ordenada, com clara divisão de tarefas. Um grupo é responsável por inserção de dados falsos no sistema, com inclusão de empresas inexistentes e vinculação de supostos funcionários a elas.

Outro tem a tarefa de validar a compra de créditos de vale-transporte gerados de maneira fraudulenta para as empresas jurídicas inexistentes. Um terceiro age descarregando o crédito dos cartões. Os golpes cometidos transformavam créditos fictícios em dinheiro vivo.

Os integrantes do grupo criminoso são investigados pelos crimes de formação de quadrilha, estelionato majorado, peculato e lavagem de dinheiro.

A operação foi batizada de Trickster, em referência à forma de agir do grupo criminoso, pois na mitologia e no estudo do folclore e da religião, um trickster é um deus, deusa, espírito, homem, mulher ou animal antropomórfico que prega peças ou desobedece regras e normas de comportamento.

A ação envolve duas delegacias da PCDF: a de Combate ao Crime Organizado, ao Crime contra a Administração pública e contra a Ordem Tributária (Cecor) e a de Repressão a Fraudes (Corf).

Check List
Pedro Jorge Brasil foi preso em outubro de 2017, na Operação Check List. Ele é suspeito de receber em apenas um ano R$ 100 mil de propina para fazer vista grossa e liberar ônibus sem fiscalização, apontam as investigações. Conforme informações da Polícia Civil, quem estava regular também pagava para os auditores aumentarem o controle contra os concorrentes irregulares.

A cobrança ocorria em duas fases e era feita em dois momentos: primeiro para conseguir o selo de vistoria e, segundo, para uso nos terminais. Os fiscais cobravam de R$ 25 a R$ 35 por ônibus para deixar passar as irregularidades e não lacrar os veículos das cooperativas. METRÓPOLES

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