O corpo do morador de São Paulo que estava internado no Hospital Couto Maia com febre amarela foi enterrado, nesta segunda-feira, 15, em Itaberaba (cidade natal da vítima, a 296 km de Salvador), no cemitério Recanto da Paz. O rapaz, que não teve o nome divulgado, tinha saído de Taboão da Serra (SP) para rever familiares na cidade baiana.
No final da tarde desta segunda, a Secretaria de Comunicação da prefeitura de Salvador (Secom/PMS) revelou que, após a divulgação da morte no Hospital Couto Maia, houve “um aumento sensível na procura pelas vacinas” nos postos de saúde da capital.
“Apesar de ainda não termos o fechamento do número de doses aplicadas nessa segunda, percebemos um aumento significativo na procura pelas doses nos postos”, disse Geruza Morais, diretora de Vigilância à Saúde do município.
Ela considerou a movimentação positiva: “A vacinação é a melhor forma de evitar a circulação do vírus nesse período [alta estação], quando a cidade recebe pessoas de todo o planeta, sobretudo de regiões como São Paulo, onde há casos confirmados em humanos”.
A diretora do Hospital Couto Maia, Ceuci Nunes, contou que a vítima morreu por causa de “uma forma maligna da febre amarela”. No entanto, a infectologista afirmou que o caso não oferece maior preocupação.
“Esse caso em si não traz riscos adicionais, mas o aumento do número de casos no Brasil preocupa”, disse ela, também alertando que “a vacinação é a maior e melhor forma de prevenção”.
Segundo a secretária de Comunicação da prefeitura de Itaberaba, Ana Fabrícia de Mattos, a vítima havia passado o Réveillon em Itapecerica da Serra (SP). No dia 2 de janeiro, ainda em São Paulo, teria ido a uma UPA e, três dias depois, para Itaberaba rever familiares. Na cidade, foi duas vezes a uma UPA, com mal estar e vomitando. Dia 9, retornou com agravamento do quadro e foi transferido para Salvador.
Constrangimento
“A família ficou desconfortável. As pessoas reagiram com medo e algumas, de forma desagradável, apontando que o rapaz trouxe a doença. Mas ninguém tem culpa de ficar doente”, disse Ana Fabrícia.
Segundo ela, o rapaz transitou por três bairros Agentes de endemia fizeram um trabalho na região contra focos de mosquitos. Com a confirmação do caso, a ação ocorreu em toda a cidade. Em três dias, segundo a prefeitura, oito mil pessoas foram vacinadas. A meta é atingir 40 mil habitantes em 15 dias. Um ginásio de esportes foi disponibilizado.
Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) informou que “está intensificando a vacinação” em Itaberaba.
Questionado se realizaria ação específica após o óbito na Bahia, o Ministério da Saúde informou que já havia divulgado uma campanha no último 9 para vacinar cerca de 19,7 milhões de pessoas na Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro. A vacinação de rotina segue no resto país.
Na Bahia, a campanha será de 19 de fevereiro a 9 de março e a meta é vacinar 3,3 milhões de pessoas em Camaçari, Candeal, Itaparica, Lauro de Freitas, Mata de São João, Salvador, São Francisco do Conde e Vera Cruz.
As escolhas das cidades foram feitas pelos estados, em avaliação de risco “para um futuro breve” e relacionadas a “um corredor de mata” próximo à região. O objetivo é “evitar a expansão do vírus para áreas próximas de onde há circulação atualmente”.
Segundo dados do ministério, de julho de 2017 a 8 de janeiro deste ano, foram notificados na Bahia 11 casos, sendo que seis foram descartados e cinco permanecem em investigação.
O que está circulando, conforme o ministério, é a febre amarela silvestre, transmitida por mosquitos Haemagogus e Sabethes, que vivem em áreas silvestres e de matas. Ao picar um macaco doente, o mosquito contrai o vírus e, após alguns dias, se torna capaz de transmitir a doença a outros macacos ou humanos.
Na febre amarela urbana, o ciclo é diferente: o homem passa a ser o hospedeiro principal e o vetor é o Aedes aegypti. Mas, segundo o órgão, até o momento não foi identificado nenhum mosquito Aedes aegypti com o vírus. “O ciclo da doença continua silvestre”, ressaltou, em nota, o ministério.
A infectologista Glória Teixeira afirmou que o risco de o paciente que morreu ter sido picado na Bahia por um mosquito Aedes e transmitido o vírus para o inseto “é mínimo”.
Para que isto acontecesse e o Aedes se tornasse um vetor que poderia replicar o vírus em outras pessoas, seria necessário ter mais doentes e mais mosquitos. “Isto é possível, mas não é provável. O risco é próximo de zero. Desde 1942 que não temos o Aedes transmitindo a febre amarela”, afirmou.